quarta-feira, 6 de julho de 2011

Talentos da Terra

Com exceção do Santos, os clubes brasileiros carecem de revelações. Até o interior de São Paulo, berço de muitos craques, parou de “fabricar” bons jogadores. Guarani e Ponte Preta, times rivais do futebol de Campinas, foram responsáveis por diversas revelações nas décadas de 70 e 80, mas a seca também atingiu a dupla do dérbi. Aliás, o caminho até o sucesso é bastante complicado. Diariamente, estas jovens promessas encaram a falta de recursos próprios, a ambição dos clubes, pais e agentes para realizarem o sonho de ser jogador de futebol.

A confiança e o incentivo da família são os primeiros passos que esta criança sonhadora consegue ter. O passo seguinte é buscar espaço nas famosas ‘peneiras’ – testes, onde os garotos têm o mínimo de tempo possível para mostrar tudo o que sabem ao treinador. Nestas ‘peneiras’ a disputa é acirrada e apenas uma pequena parcela consegue dar início ao seu objetivo pessoal.

“A Ponte realiza testes de seleção quando tem uma relação de muitos possíveis jogadores para o time. Esses "candidatos" realizam um jogo treino acompanhados pela Ponte e os que se destacam são convidados a integrarem as categorias de base por uma semana, na qual são mais uma vez observados", disse ao blog rbrito o coordenador técnico das categorias de base da Ponte Preta, Fernando Kenor.

Mas o sonho ainda não irá se realizar por completo se o garoto passar na ‘peneira’. De acordo com documentos do Departamento de Registro e Transferência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), os clubes brasileiros pagam até dois salários mínimos para a maioria (82,17%) dos atletas e apenas 3,75% recebem mais de R$ 3.600.

"O problema é que tivemos que reiniciar um trabalho na base, começar praticamente do zero. Com o que existe hoje no futebol, em relação a Lei Pelé e concorrência, leva tempo para conseguir formar atletas jovens para serem aproveitados na equipe principal", explicou, em entrevista coletiva no começo do ano, o presidente do Guarani, Leonel Martins de Oliveira.

Para mudar estas estatísticas, o Guarani inovou na forma de revelar jovens talentos. Há mais de dez anos, o clube campineiro fundou o Projeto Bugrinho, uma escolinha de futebol cujos principais objetivos são formar novos atletas para o futebol mundial, propiciar às crianças o preenchimento em suas horas vagas e interagir na formação do homem. Outro programa do time alviverde é o Projeto Bugrinho Comunidades, um trabalho social com cerca de 150 crianças carentes que fazem aula de futebol gratuitamente e recebem um lanche no fim de cada aula.

Recentemente, a Ponte Preta iniciou a reformulação em suas categorias de base. O intuito, a princípio, é formar atletas, ao invés de disputar competições. "A Ponte sempre teve tradição em revelar atletas de base e o principal objetivo de nosso trabalho, iniciado há cerca de três meses, é retomar esta tradição. No momento estamos reestruturando as categorias Sub-15 e Sub-17, com critérios técnicos bem definidos e medidos por meio de ferramentas específicas, para que voltemos a formar atletas para o time profissional da Ponte Preta", contou Fernando Kenor, formado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduado em treinamento esportivo em futebol.

“Não estamos formando times para disputar e vencer competições. É claro que participar delas faz parte da formação e os bons resultados virão como consequência do trabalho, mas o objetivo é formar bons atletas e não meramente ganhar títulos", completou o dirigente.

Revelações

Guarani e Ponte Preta têm fama em revelar bons jogadores. A cidade de Campinas já foi intitulada “Capital do Futebol” nas décadas de 70 e 80. O Guarani, curiosamente, descobriu mais atacantes, enquanto que a Ponte revelou mais defensores. As revelações do Guarani deram mais resultados e títulos para o clube, apesar de permanecerem menos tempo no Brinco de Ouro se comprados aos jovens talentos da Ponte Preta.

Mas a Macaca soube utilizar a experiência do craque mais vezes. A Ponte Preta, inclusive, aproveitou ex-ídolos nas categorias de base. Um exemplo disso é Dicá, que já foi diretor e superintendente de futebol do clube. O Guarani também se beneficiou dos ex-ídolos, em menor escala é verdade. Neto, que foi dirigente e chegou a treinar o Bugre em uma oportunidade, é um exemplo.

Nomes de peso

A Ponte Preta revelou nomes como Oscar, Dicá, Carlos, que foi goleiro da Seleção em Copa do Mundo, Chicão (atacante), Luís Fabiano (atacante), Rodrigo (zagueiro campeão da Taça Libertadores da América com o São Paulo em 2005), Fábio Luciano (zagueiro campeão Mundial com o Corinthians em 2000), Polozzi (zagueiro), entre muitos outros.

O rival Guarani não fica atrás e já revelou ao Brasil, Careca, Zenon, Luizão (pentacampeão Mundial com a Seleção Brasileira), Djalminha (meia), Evair (atacante), Neto (campeão Brasileiro pelo Corinthians em 1990 e hoje comentarista da TV Bandeirantes), Edmar (atacante), João Paulo (atacante), entre muitos outros.

Lei Pelé
A Lei Pelé (Lei nº 9.615/98) foi criada para ajudar os jogadores. Antes, eles se diziam “reféns” dos clubes. Mas a Lei, que levou o nome do maior jogador de todos os tempos, abriu uma enorme brecha para os empresários. Com isso, os clubes passaram a reclamar da Lei Pelé. Com tantos protestos, a presidente Dilma Roussef sancionou, no último dia 16 de março, a Lei nº 12.395/11, proposta pelo deputado José Rocha (Partido Republicano-BA).

"Ele (atleta) passa a ter um vínculo com o clube registrado na Federação de Futebol. Ele não pode se transferir para o outro clube sem que o clube que o está formando, tenha realmente benefícios nesta formação. (Caso contrário, o clube interessado terá que pagar) Até 200 vezes no valor gasto na sua formação", explicou o deputado durante o evento, em março.

Nesta nova Lei, os clubes formadores passam a receber até 5% do valor das futuras negociações, mesmo que a transferência seja entre clubes do Brasil. Antes, esta decisão só valia para negociações com clubes do exterior. Agora, os jogadores de futebol também estão proibidos de serem agenciados antes que completem 18 anos de idade.  Já o primeiro contrato profissional do atleta poderá se estender por cinco anos, enquanto que o segundo terá um limite de três.

Os clubes também terão deveres. O clube formador terá que participar de pelo menos duas competições das categorias de base. Isso evitará a formação de clubes de fachada que estão de olho apenas em 5% das negociações. Todas estas medidas são para valorizar e dar continuidade as safras de craques que só o país do futebol consegue apresentar todos os anos e cada vez melhor.

Qual último jogador revelado pelo seu clube que deixou saudade, caro torcedor-internauta? Opine! Participe pelo blog rbrito ou através do twitter (@rbrito1984)

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